quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Menino Do Pijama Listrado - Carolina e Luana


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 Quando Bruno viu a casa nova pela primeira vez, seus olhos se arregalaram, a boca fez o formato de um O, e os braços penderam estendidos ao lado do corpo novamente. Tudo nela parecia ser o oposto da casa antiga, e ele não podia acreditar que eles iriam de fato morar lá. A casa de Berlim ficava numa rua calma ao longo da qual havia mais um punhado de casas grandes como a dele, e era sempre agradável olhar para elas, porque eram quase iguais à sua própria, mas não exatamente, e nelas moravam outros meninos com quem ele brincava (se fossem amigos) ou de quem mantinha distância (se fossem encrenca) A casa nova, no entanto, ficava isolada num lugar vazio e desolado, e não havia nenhuma outra casa à vista, o que significava que não haveria outras famílias por perto nem meninos com quem brincar, fossem amigos ou fossem encrenca.

 “Se eu não gosto daqui?”, respondeu Bruno com uma leve risada. “Gostar daqui?”, ele repetiu, mais alto desta vez. “É claro que eu não gosto daqui! É horrível. Não há nada para se fazer, não há ninguém com quem conversar, ninguém para brincar comigo. Não vá me dizer que você está contente por termos nos mudado para cá.”

 Um homem mais ou menos da idade de seu pai, que morava na esquina do seu quarteirão da casa velha em Berlim. Era freqüentemente visto na rua andando para lá e para cá a qualquer hora do dia ou da noite, discutindo sozinho, exaltado. Às vezes, no meio dessas discussões, a disputa saída do controle e o homem tentava atingir a sombra que ele próprio projetava na parede. De tempos em tempos herr Roller lutava com tamanha fúria que os punhos sangravam de tanto bater contra as paredes de tijolo, e então ele caía de joelhos, chorando alto e batendo as mãos contra a cabeça. Em algumas ocasiões Bruno o ouvira proferindo aquelas palavras que ele próprio não podia usar e, nessas vezes, tinha que se controlar para não rir.

 “É claro” disse o tenente Kotler, acenando a cabeça com ar de sabedoria, como se tais coisas fossem apenas memórias distantes agora, ainda que, conforme Gretel dissera, ele próprio não passasse de um adolescente. “Sim, eu mesmo fiz muitos balanços quando era criança. Meus amigos e eu passamos muitas tardes felizes brincando assim.” Bruno ficou estupefato ao perceber que havia algo em comum entre eles (e ainda mais surpreso em saber que o tenente Kotler já tivera amigos na vida).

 “Eu fiz um balanço, mas caí dele”, explicou Bruno. “E depois o balanço me atingiu na cabeça, e eu quase desmaiei, mas Pavel veio me ajudar, e me trouxe para casa, e limpou meus machucados, e fez um curativo em mim, que doeu muito, mas eu não chorei. Não chorei nem uma lágrima, não é mesmo, Pavel?”

  Eles moravam juntos num pequeno apartamento próximo às bancas de frutas e legumes, e, na época em que Bruno se mudou para Haja-Vista, o avô tinha quase setenta e três anos, o que, para os padrões do menino, fazia dele praticamente o homem mais velho do mundo. 

 Todos no campo usavam as mesmas roupas, aqueles pijamas com os bonés de pano também listrados; e todos que passavam pela sua casa (exceção feita à mãe, Gretel e a ele próprio) vestiam uniformes de variadas qualidades e graus de condecoração e quepes e capacetes com grandes braçadeiras vermelhas e negras e traziam armas e estavam sempre com o semblante terrivelmente severo, como se tudo aquilo fosse muito importante e ninguém pudesse pensar diferente. 

  Uma história emocionante que retrata um dos períodos mais tristes da humanidade. “O Menino do Pijama Listrado” nos mostra a visão de uma criança sobre a segunda guerra mundial e os campos de concentração em que os nazistas exterminaram os judeus.